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Cadeias Musculares: De Sua Origem Aos Dias Atuais

18 de novembro de 2021
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O QUE SÃO E QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS DAS MESMAS

 

Por Profa Laís Cristina Almeida, Ft, Psic, MSc, ESP, DO

 

Para o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986):

Cadeia é uma corrente de anéis ou de elos de metal; um conjunto de fatos ou fenômenos que ocorrem sucessivamente; série ininterrupta de objetivos semelhantes; um conjunto  linearmente ordenado; sucessão de fenômenos de caracteres análogos em que cada um cria os elementos necessários ao desenvolvimento do seguinte.

A abordagem das cadeias foi descoberta pela fisioterapeuta francesa Françoise Mézières (1909-1992), que lançou as bases do trabalho integral do corpo por intermédio das cadeias musculares e tratamento através das posturas globais de alongamento, revolucionando os princípios e a prática fisioterapêutica. 

Mas não foi Mézières que inventou o conceito de cadeias no corpo humano. Anteriormente já se conhecia a cadeia de gânglios simpáticos, cadeias de linfonodos, entre outras. O que ela criou foram as cadeias musculares, ninguém havia falado sobre esse assunto antes. Ela chegou ao conceito de cadeias através da observação de um paciente e relatou que “os músculos posteriores se comportam como um só músculo”. Esse postulado significa que cadeia é um conjunto de músculos poliarticulares que possuem a mesma direção (NISAND; GEISMAR, 2007). Então, por serem poliarticulares, uma tensão em um segmento é transmitida para outro.

Myers (2010), no livro Trilhos Anatômicos e Meridianos Miofasciais relata ao notar que as cadeias musculares já tinham sido descobertas por Françoise Mézières: 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Capa do Livro Trilhos Anatômicos. Fonte: MYERS, 2010.

 

“Fiquei decepcionado: as minhas ideias não eram totalmente originais…

Aliviado: pois não estava totalmente fora  do caminho. Porém essas cadeias funcionais são baseadas em conexões funcionais de passagem. 

Os trilhos anatômicos são baseados em cadeias fasciais diretas”

 

Figura 2 – Cadeia fascial direta: continuidade da cabeça aos pés. Fonte: MYERS, 2010.

 

Atualmente não se separam  músculos de fáscias

Cadeias miofasciais 

Anatomicamente, “fáscia” designa uma membrana de tecido conjuntivo de proteção, de nutrição, um conjunto orgânico (BIENFAIT, 1999). A palavra fáscia que nos ocupa foi criada pelos osteopatas. Não se trata de “fáscias”, como é dito frequentemente, mas “da fáscia”. A palavra fáscia no singular não representa uma entidade fisiológica, mas um conjunto membranoso extenso através do qual tudo está ligado, tudo está em continuidade, uma entidade funcional.

Para Bienfait (1999) todas as estruturas anatômicas são solidárias, ou seja, estão conectadas umas com as outras através do tecido fascial. Assim, para ele, o termo cadeia está relacionado com a unidade fascial, o que implica que uma tensão ativa ou passiva repercute sobre o conjunto.

Recentemente os participantes do Fascia Research Congress decidiram distinguir o termo “fáscia” do termo “sistema fascial”. O primeiro termo “fáscia” indica uma bainha, uma folha ou uma lâmina. Essa definição anatômica nem sempre é útil para o uso clínico pois  não corresponde à função de globalidade da rede fascial ou continuidade fascial (SCHLEIP et al., 2012; STECCO; SCHLEIP, 2016)

O segundo termo “sistema fascial” sugere os aspectos funcionais de toda fáscia, incluindo transmissão de força, funções sensoriais e compensações.  Se refere a uma rede de tecidos interdependentes, inter-relacionados e interativos, formando um todo complexo (STECCO; SCHLEIP, 2016)

 

Cadeias e transmissão de força miofascial

A transmissão de força miofascial já foi demonstrada em várias pesquisas (LOGENVIN, 2006; HUIJING; BAAN, 2008; STECCO; SCHLEIP, 2016). Essa transmissão não está limitada somente entre os músculos sinergistas, mas ocorre também entre antagonistas e entre sinergistas e antagonistas (RIJKELIKHUIZEN et al., 2005; MEIJER et al., 2007; HUIJING et al., 2007). Carvalhais  et al. (2013), em um estudo in vivo, demonstrou a ocorrência de transmissão de força miofascial entre os músculos grande dorsal e glúteo máximo. 

Uma importante consequência da transmissão de força miofascial é que músculos individualmente não devem ser considerados como unidades geradoras de força de maneira independente (HUIJING 2007; HUIJING et al., 2007). Essa citação do autor é sugestiva de uma transmissão que ocorre de um elemento para o outro, ou seja, da existência das cadeias miofasciais. 

 

Consequências clínicas da evidência de cadeias miofasciais

Devido à existência de inter -relações e interconexões entre os elementos miofasciais, as evidências demonstram uma transmissão das tensões, dos desequilíbrios, de um segmento para outro. Então podemos falar de adaptações e compensações. Em consequência dessa transmissão em cadeia, um sintoma pode ser encontrado longe das causas e, para que um tratamento seja realmente eficaz, temos que tratar essas causas. É imprescindível, portanto, não focar nos sintomas, mas buscar as causas, através das inter -relações e das conexões anatômicas.

 

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Referências

BIENFAIT, M. Fáscias e pompages: estudo e tratamento do esqueleto fibroso.  São Paulo: Summus Editorial, 1999.

FERREIRA, A. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

GEISMAR, S. Mézierès, Le dos reinvanté. Paris: Lyon, 1993.

HUIJING, P. A.  et al. Extramuscular myofascial force transmission also occurs between synergistic muscles and antagonistic muscles. Journal of electromyography and kinesiology, v. 17, n. 6, p. 680-689,  2007.

LANGEVIN, H. Connective tissue tissue: a body- wide signaling network? Med Hypotheses 66:1074- 1077. 2006.

MEIJER, H. J. M. Aspects of epimuscular myofascial force transmission: a physiological, pathological and comparative-zoological approach.  Amsterdam: : PrintPartners Ipskamp B.V, 2007.

MYERS, T. W. Trilhos Anatômicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

NISAND, M.; GEISMAR, S. La Méthode Mézères: un concepct révolutionnaire. Paris: J. Lyon, 2017.

RIJKELIJKHUIZEN, J.; BAAN, G.; DE HAAN, A.; DE RUITER, C.; HUIJING, P. (2005). Extramuscular myofascial force transmission for in situ rat medial gastrocnemius and plantaris muscles in progressive stages of dissection. Journal of Experimental Biology, 208(1), 129-140.

SCHLEIP, R.; JÄGER, H.; KLINGLER, W. What is ‘fascia’? A review of different nomenclatures. Journal of bodywork and movement therapies, v. 16, n. 4, p. 496-502,  2012.

STECCO, C.; SCHLEIP, R. A fascia and the fascial system. Journal of bodywork and movement therapies, v. 20, n. 1, p. 139-140,  2016.

 

 

 

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COMENTÁRIOS:

A
Aline Beatriz Ferreira
Abordagem simples e de fácil entendimento, amei a matéria.

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